Fitch sobe rating do Brasil, mas Bolsa cai: o que explica a reação tímida do mercado?

1 year ago 69

Uma notícia surpreendente positiva, mas uma reação bastante tímida do mercado.

A Fitch elevou o rating do Brasil a “BB” nesta quarta-feira, contra “BB-” antes, com perspectiva estável, e atribuiu a mudança a um desempenho macroeconômico e fiscal melhor que o esperado, um movimento positivo e que surpreendeu pelo timing, uma vez que não constava na agenda de eventos macroeconômicos da semana.

Porém, o desempenho do mercado brasileiro nesta sessão é tímido. Às 12h (horário de Brasília), o Ibovespa caía 0,37%, a 121.562 pontos, enquanto o dólar comercial tinha baixa tímida, de 0,32%, a R$ 4,734 na compra e R$ 4,735 na venda. 

No mercado de juros futuros, os principais contratos tinham leve queda. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 recuava de 12,635% do ajuste na véspera para 12,61%; a do DI para janeiro de 2025 ia de 10,635% para 10,61%. Já para janeiro de 2027, o movimento era de leve alta, de 10,145% para 10,155%.

Analistas ressaltam alguns motivos para esse desempenho fraco do mercado na sessão e avaliam que, apesar desse movimento de curtíssimo prazo, num prazo mais longo, a notícia é mais um ponto positivo para o mercado de renda variável brasileiro.

Porém, nesta sessão, a expectativa pela decisão de política monetária do Federal Reserve à tarde limita o bom humor dos mercados.

O Fed divulgará seu comunicado às 15h (horário de Brasília) e a expectativa é de alta de 0,25 ponto percentual nos juros, o que os levaria ao patamar mais elevado desde a crise financeira global. Mas os operadores do mercado monetário estão divididos sobre os possíveis próximos passos do banco central dos EUA. A sessão é de cautela para os principais mercados mundiais.

“Hoje, sendo um dia de decisão de juros nos Estados Unidos, isso [a elevação do rating] vai ficar um pouco mais ofuscado, até mesmo sendo difícil identificar [posteriormente] o que foi o efeito de decisão da Fitch e o que foi o efeito de decisão de juros nos EUA”, avalia Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.

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“Analistas devem ficar atentos ao discurso pós-reunião, que pode sinalizar o fim do ciclo de aperto monetário”, destacou a equipe da XP, em nota.

Além disso, como a S&P já tinha feito um movimento positivo, a primeira movimentação teve um impacto maior no mercado. A melhora da nota pela Fitch veio pouco mais de um mês depois que a S&P mudou sua perspectiva para a nota de crédito do Brasil, atualmente BB-, de “estável” para “positiva”, citando sinais de maior certeza sobre a estabilidade da política fiscal, assim como a Fitch.

As últimas sessões, por sinal, também foram de ganhos para o Ibovespa, que atingiu na véspera o maior patamar desde agosto de 2021 na última terça-feira, superando os 122 mil pontos em um pregão de alta das ações de commodities.

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Marcelo Boragini, sócio da Davos Investimentos, aponta a dificuldade do Ibovespa em ganhar mais tração também devido a certo ajuste após ganhos recentes.

Os papéis de Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3) registram baixa nesta sessão, pressionando o índice.

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O petróleo tem leve queda, com o brent em baixa de cerca de 0,3%, à espera do Fomc, enquanto a mineradora registra um movimento de correção após quatro altas seguidas, mesmo após o minério de ferro subir novamente na Ásia com perspectiva de estímulos na China. Em Dalian, o contrato mais negociado para setembro encerrou as negociações diurnas com avanço de 1,8%. Cabe ressaltar que a mineradora divulga resultado trimestral na quinta-feira.

Notícia positiva

De qualquer forma, Cruz, da RB Investimentos, aponta que, após a decisão da Fitch e com a S&P melhorando a perspectiva, só falta a Moody’s entre as três principais agências de rating se posicionar – e que esse também deve ser um posicionamento positivo para o Brasil.

“Entendo que a medida favorecerá o fluxo de recursos para cá, porque diversos fundos internacionais têm limitações de aporte por conta da nota de crédito”, avalia Cruz.

Boragini também reforça que os investidores estrangeiros podem aumentar a alocação em Brasil e, consequentemente, derrubar ainda mais a cotação do dólar frente ao real, entre outras coisas positivas.

Por outro lado, Matheus Pizzani, economista da CM Capital, aponta que a decisão da Fitch de hoje fortalece o ambiente para queda na Selic na reunião do início de agosto, embora não deva ser enxergada, na opinião do especialista, como motivo para projeção de um corte mais robusto que 25 pontos nos juros, atualmente a 13,75% ao ano.

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“Em vista das incertezas que cercam a trajetória futura de importantes grupos do IPCA, especialmente no caso dos serviços, além da rigidez ainda apresentada pelo mercado de trabalho, o comitê deve seguir adorando a postura cautelosa que teve no ciclo de aperto e ser parcimonioso no momento dos cortes, atrelando-os à evolução dos dados divulgados no intervalo das reuniões e não apenas aos eventos de ordem mais geral que tem sido observados até aqui”, avalia Pizzani.

Alberto Ramos, diretor de Pesquisa Macroeconômica do Goldman Sachs para América Latina, vê uma evolução positiva para o país.

Porém, para o Brasil recuperar finalmente o status de grau de investimento, isso exigiria reformas decisivas e políticas macro, micro e regulatórias que apoiem o investimento e promovam o crescimento da produtividade (ou seja, elevem o atual modesto potencial de crescimento real do PIB) e estabilizem o ainda dinâmica da dívida com inclinação ascendente.

A S&P classifica a dívida externa de longo prazo em moeda estrangeira do Brasil em BB- (perspectiva positiva; três degraus abaixo do grau de investimento), enquanto a Fitch (BB) e a Moody’s (Ba2) estão agora dois degraus abaixo do grau de investimento.

(com Reuters)

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